Por Carla Cinara Luz
Muitas vezes passamos toda a nossa existência fugindo de uma nítida realidade. Talvez não nos revelem com palavras mas os olhos e o comportamento dos que nos cercam são fortes indicadores do que somos.
Tentei me esconder das faces que desdenhavam da minha esquisitice. Risos, beijos e carinhos jamais foram meus desde criança, mas não posso culpar alguém senão a mim: nunca fui interessante, atrativa, desinibida, contagiante, engraçadinha muito menos bonita. E cresci assim, sempre me vendo nos olhos denunciantes dos outros...
Lá no fundo eu guardava as gotinhas que sobravam de minha auto-estima, as quais até hoje uso com cautela e zêlo. Construí um escudo para me esconder dos olhos dos outros e fugir das definições e conceitos que esses criavam a meu respeito.
A gente cresce, mas isso não significa que estamos preparados para ouvir a tal verdade estampada na plateia. Aos quase trinta anos imaginei estar livre desse medo de ouvir o que pensam ao meu respeito. Preciso considerar que em partes venci isso. Mas a "boca do coração" disse que não sou amável (acolhedora, afável, atenciosa, encantadora, digna de amor). Tiro e alívio, afinal eu sempre soube dessa verdade construída como reação aos desamores e dissabores do mundo para comigo.
As gotas , agora dos olhos meus, caem como se tivessem lavado minha alma e escolhessem sair por onde eu devia ter me visto o tempo todo. Muitos podem saber que são poucos os meus dotes e virtudes, mas só eu tenho a medida dessas minhas competências e habilidades. Não me importo em ser o mais minúsculo dos bichos desta grande selva que vivemos, pois a formiga pode ser maior que o boi não apenas na quantidade de letras do nome! Além disso, nunca sonhei com grandeza, ao contrário disso , tudo o que fiz foi tentar ser invisível. Fez frio hoje. Minha alma gemeu. Vieram como tempestade as palavras que me revelaram. Mas as tais gotinhas da auto-estima se fizeram oceano, e me amo como sou.
A minha verdade só a mim pertence, e os olhos do mundo nada mais são que expectadores cegos desse espetáculo de Deus : EU!